Era assim que se sentia, um entorpecimento sem causa tomando vulto, um desdém de viver, a velha impotência tomando ares de insolência diante das óbvias vilezas que lhe cercava...o cansaço invadia cada poro, justificado pela necessidade de viver, pelo deslocamento, pelas beiras do abismo desenhadas de um lado e do outro...e essa sede abismal tomando forma, como se o cenário diante dela pedisse o pulo. Sentia-se incongruente, como um ângulo geométrico sem conseqüência, o que redundava matematicamente no improvável. Andara pensando, como diria aquele que lhe traduzia, sobre as vidas dentro, fora e além de si, vidas bem traçadas, onde só o viver milimetricamente traçado importava, e até tentava, mas sempre fora assim desencontrada, inexata, oscilando entre o querer e não querer, sem coragem para agir diante da velha inadequação de viver. Sensação amparada numa inquietude quase sísmica, como fragmentos corpóreos amontoados antes da queda, ruindo velhos projetos de construir ideais insanamente utópicos, doidos sonhos...e cismava tanto, teimando nesse caos que lhe constituía, se deixando viver, e como cansava...
imagem retirada da internet...
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