sexta-feira, 16 de abril de 2010


Perdoa o caos instaurado, é que me encontro labiríntica entre sentir sabendo q vou sofrer e permanecer fincando raízes...

Te vejo perdendo-se de mim nessas pequenas fugas cotidianas, como se ao limpar os móveis você conseguisse retirar o pó das nossas emoções embotadas por esses anos de convivência, e temo não ter o conforto da certeza ofertada nos pequenos gestos – esses que sobram quando a paixão esmaece. Procuro alucinada, compreender esse desequilíbrio que se instaurou entre nós, esse desencontro onde antes havia plenitude. Dessa angústia de não entender, me deparo com a incongruência entre meu desejo de costurar asas para mergulhar nesse abismo que se afigura e a velha mania de fincar mais fundo as raízes por causa desse medo insano de voar.

Então instável, despedaçada, angustiada, corroída por ciúmes que se antecipam em função dos meus delírios imaginários – fruto da minha impossibilidade de me curar da minha infância, do medo do escuro que me obsediava – me pergunto compulsiva, porque ela voltou? Para onde você vai? Quem me curará dos excessos que me cercam, quem me curará de mim, senão você que sabe das minhas vontades mesmo antes de mim, que segura minha cabeça quando enjoada de viver vomito toda a minha dor, que decorou meus gostos, minhas idiossincrasias para me agradar, ofertando um conforto que assegura o que resta do meu juízo. Mas como sermos uma quando a cisão foi se construindo em todos esses dias sufocados em tédio, e a fusão que alcançávamos em noites orgiásticas perdeu-se na noite escura, restando apenas a mecanicidade dos gestos que excitam sentidos, não satisfazendo mais porque fundados numa pressa que burocratiza até o ato mais carnal...

Anne Damásio



3 comentários:

  1. Acho q foi isso q me perdi... acho q foi isso q perdi quem poderia "segurar" a barra... Tenho perdido para mim mesma a luta pela sobrevivência dos sentidos... não me encontro acordada! Mas, em estágio de inércia... e ninguém compreende q é assim q funciono.

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  2. Demais seria se não fosse!
    E essa doença de si, 100 curas já foram ditas, ma(i)s, não (h)à cura!

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  3. E como diz Bachelard, o poeta doa a sua experiência. Perfeito o modo como você a doou. É nessas horas que insisto em calar os dedos.

    http://papilioinnocentia1.blogspot.com/

    Visite-me!
    Abraço!

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